Tuesday, June 23, 2009

Bom de bola sim, e de inglês?

Na posição de professora de português e de inglês, sinto-me na obrigação de comentar a recente repercussão que a mídia tem dado às gafes cometidas nas entrevistas de jogadores e de técnicos de futebol, como por exemplo com o que ocorreu domingo no Fantástico, com o treinador Joel Santana, que virou motivo de piada por exibir um inglês sofrível em uma entrevista sobre a classificação da seleção da África do Sul, Bafana Babana.
Com salários cheios de zeros que causam até polêmica, mesmo os erros mais grotescos de jogadores e técnicos de futebol viram febre de acessos na Internet, tornam-se hit de música e acabam por cair na boca do povo, que repete as frases veiculadas pela mídia, a principio, em tom jocoso. Mas, sem que exista uma reflexão crítica sobre elas, tais frases acabam sendo incorporadas ao repertório lingüístico das pessoas, as quais imaginam que se está na boca de uma pessoa famosa, então é porque é desse jeito que devemos falar.
Não é de hoje que vemos no noticiário da mídia e em programas de humor frases de jogadores de futebol, tais como as que destacamos a seguir:

• 'As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe.' (Dunga, em entrevista ao programa Terceiro Tempo)
• 'Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar.' (Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade do povo baiano)
• 'O novo apelido do Aloísio é CB, Sangue Bom.' (Souza, meio-campo do São Paulo, em uma entrevista ao Jogo Duro)
• 'A partir de agora o meu coração só tem uma cor: vermelho e preto.' (Jogador Fabão, assim que chegou no Flamengo)
• Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu.' (Claudiomiro, ex-meia do Inter de Porto Alegre, ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72'

Em meio a um amontoado de pleonasmos, desconhecimentos de geografia, história, matemática, inglês, português, entre outras ciências, eles vão desfilando com seus salários astronômicos e servindo de modelos a serem imitados e admirados. Enquanto isso, nós professores rebolamos para responder questionamentos com os quais nos deparamos todos os dias nas salas de aulas até das melhores escolas: “Estudar para quê”?
Se levarmos em consideração que o técnico Joel Santana ganha em um minuto mais do que um professor de inglês ganha por mês, podemos dizer que ele tem licença poética para falar inglês errado quando quiser. Se formos além e mencionarmos que ele ganha por mês bem mais do que o presidente sul-africano recebe durante um ano inteiro, então seremos levados a pensar: O que é mais importante, governar um país ou um time de futebol? O que dá mais prestígio? Ensinar para quê? Sem dúvida, essas são apenas perguntas retóricas que a mídia não nos ajuda a responder.

Confira a aula de inglês.http://colunas.globoesporte.com/bolanascostas/2009/06/19/funk-do-joel/
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1202487-15605,00-CONHECA+O+INGLES+PECULIAR+DE+JOEL+SANTANA.html
http://www.youtube.com/watch?v=eT1EkIgfjYc

Agora confiram a entrevista com Anderson, do Manchester
http://www.youtube.com/watch?v=GG55Ze_Dj20

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