Monday, May 30, 2011

DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS SÓ REVELA IGNORÂNCIA

http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=745&cpage=1#comment-1303
Sou uma fã incondicional de Marcos Bagno e acredito que anos de pesquisa linguística não devem ser despresados por causa de uma simples polêmica jornalística. No entanto, como professores de português em escolas onde o preconceito linguístico se estabelece contra a norma linguística e o erro é a regra, para usar as palavras de Bagno em sua réplica à notícia, devemos pensar em quem “detêm o absoluto poder da informação”?. As provas para ingresso nas universidades mudaram. Mas quanto? Provas para concurso público mudaram? E na entrevista de emprego, o que acontece se um candidato, nosso ex aluno ao qual ensinamos que ok, pode falar “Os menino vai na feira, nóis vai junto, a gente fomos comprar fruitas, mais num alembramos” disser que aprendeu que falar assim está certo? Uma coisa é considerarmos que a “variação linguística e seu tratamento em sala de aula” “já vem ocorrendo “faz mais de quinze anos”. Se não considerássemos a variação e mudança linguística, estaríamos falando “frecha” e “plaia”, tal qual Camões em seu auge de influência intelectual. Lógico que temos que ensinar a nossos alunos que “seu modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente”. Outra coisa é dizer que nossos alunos não precisam aprender a língua igual, que “a tradição normativa tenta preservar”. Não fosse assim, cada um falaria do modo que melhor lhe apraz e não haveria comunicação nem mesmo entre pressoas de gerações e gêneros diferentes da mesma família, da mesma comunidade linguística. E foi essa a polêmica que a reportagem reacendeu.


Assim como existem “Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos”, infelizmente também existem professores “desinformados que abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos” e contra a sua formação acadêmica, “prepotentemente convencidos que não se deve ensinar para o aluno oriundo das “minorias linguísticas”, o qual não quer mesmo aprender a norma linguística e, mesmo que aprenda, usará onde e com quem?

Nasci em uma minoria linguística. Sofri preconceito linguístico ao chegar da escola falando – de modo esquisito, feio, incompreensível e esnobe – para a maioria de minha família. No entanto, eu tinha uma escolha: continuar falando como eles para não ser diferente e não me sentir alvo “de zombaria e preconceito”, pois foi isso que ocorreu, ou aprender que com o conhecimento da norma podemos flutuar pelas diversas camadas da sociedade e nos comunicarmos de igual para igual.

Por último, uma frase de Clarice Lispector para botar mais lenha nessa polêmica: “Depois que aprendi em mim mesma como é que se pensa, nunca mais pude acreditar no pensamento de ninguém” (Negociatas).



Vamos pensar, professores!

8 comments:

Rosana Rogeri said...

Não entendi, Sol. Tem muito professor que não sabe o que tem de fazer na escola, mas daí a utilizar um único conceito de língua para o ensino é autorizar a incompetência dos professores, não acha?

Se a línguística já mostrou o valor de todas as variantes, estranho seria a não escola dizer isso ao aluno, não é?

A proposta é o ensino de língua baseado em gêneros discursivos e situação de comunicação, de forma alguma isso incentiva o alunoa utilizar variante não padrão em todos os contextos...

Rosana Rogeri said...

*a escola não dizer...

Unknown said...

Concordo com você. E percebo que tem acompanhado os comentários na mídia. É por isso que faço pesquisa em linguística. O que está em pauta não é utilizar um único conceito de língua para o ensino, mas a forma como estão adotando a questão da variação linguística para o ensino. ok que o aluno pode falar do modo como quiser, mas como você disse, daí a importância de se levar em conta os gêneros discursivos. Não dá para falar que o Chico Bento fala corretamente, a menos que seja numa revistinha cômica de Maurício de Souza. Se Chico Bento falasse conforme a norma culta, não teria graça. É nessa flutuação estilística e de gêneros discursivos que o professor e o livro didático deve pensar quando coloca em pauta as variantes da língua.

Unknown said...

Mas é justamente dada a importância das variantes linguísticas que agências de fomento financiam 4 anos de estudo do marcador conversacional "né" ou do uso do "mas" com outros valores que não contrastivo e não financiam pesquisas etnográficas.

Rosana Rogeri said...

Então, escrevi um texto sobre http://docenciainloco.com/?p=184, mas estou preparando um mais completinho para um veículo de maior alcance que meu bloguezinho.

Acho que temos de discutir isso, temos de conversar debater e nos posicionar, evitar essa coisa reducionista que a imprensa transforma tudo. Agora na escola fica aquelas malucas justificando a sua incompetência pelo posicionamento da mídia... afff

Olha, faço cursos sempre, utilizo livros didáticos e tudo é baseado em situação comunicativa e gêneros discursivos. O bom disso é podermos levar esse debate para a sociedade, né?

Rosana Rogeri said...

perfeita minha concordância aí, né? hehe

Unknown said...

Ro, eu admiro o seu posicionamento como professora da rede. Uma pessoa crítica, que não reproduz tudo o que vem no livro didático e que está sempre em busca de renovar o conhecimento para co-construí-lo com os alunos é raro.
Se todos os professores da rede pública fossem assim, nós, professores PEB II não teríamos que alfabetizar (coisa para a qual não somos preparados na faculdade) pois não receberíamos alunos que ainda não estão alfabetizados nem para escrever o próprio nome em maiúscula. Apesar da progressão continuada e tal, acredito que o professor pode fazer um trabalho bom quando quer. Mas aí vem o maldito contexto que amarra as mãos até mesmo do melhor professor.
Na escola em que leciono, por exemplo, uma professora teve catapora 2 vezes no mesmo semestre. Coisa que só se pega uma vez na vida. Os alunos dela e os meus na mesma série vivem nos comparando. Adoram ficar sem aulas quando um professor falta. Qdo ela vem, passa um texto na lousa para eles copiarem e depois fazerem um desenho sobre a história. Nem se dá ao trabalho de ler o livro, preparar a aula antes. 5a série, 6o ano... E por aí vai.
Mas apesar de existirem bons livros que facilitam o trabalho do professor, você viu o de matemática que a reportagem da Globo criticou esta semana? 10-4=7. Aposto que nenhum professor de matemática defenderá o autor do livro. Não é porque está lá que devemos concordar com tudo, mas muitos professores apenas reproduzem o que está lá. Esta é a verdade.

Kenny Rosa said...

Não sou entendedor do assunto. Mas sou pai e como tal, me preocupo com o ensino dos meus filhos. Não sei se estou certo, mas penso que tudo depende de um contexto. O mais importante é ter a possibilidade de esclher a forma de se comunicar, mas para isto é necessário conhecê-las e conhecer as partes envolvidas na comunicação, portanto precisamso de aprender a sermos críticos e a ler nas entrelinhas.
Abraços.